Já pensou sobre a relação entre a
língua e o modo de pensar dos seus usuários?
Porque em algumas línguas você
pode exprimir uma ideia com 2 ou 3 palavras e em outras você precisa de falar
durante 10 minutos chegando à mesma conclusão? O que o fato de um brasileiro falar
“Talvez”, quando um alemão falaria “Não” diz sobre a cultura e o modo de pensar
das pessoas que vivem nela? Já pensaram porque tem tantas palavras e expressões
que não podem ser traduzidas para outras línguas? É a cultura que influencia
como nós nos exprimimos ou será que a língua nos faz pensar de algum modo
específico?
Os filósofos e sociolinguistas já
têm feito estas perguntas várias vezes e continuam criando teorias sobre o
assunto.
Um dos primeiros filósofos que
abordou o tema no século XVIII foi o alemão Wilhelm von Humboldt. Ele
apresentou a ideia de que a língua é um
espírito da nação. Analisando as línguas europeias e as diferenças entre as
mesmas, chegou à conclusão que os povos estão usando as línguas diferentes por
causa de modos diferentes de interpretar os mesmos fenômenos. Ele argumentou
que pensar nunca está desligado da língua do pensador e que a língua condiciona
a forma de abordar e interpretar os acontecimentos. É importante mencionar que
a teoria de Humboldt contribuiu à onda de padronização das línguas oficias nos
países europeus.
Já no século XX., baseado na ideia
apresentada por Humboldt, o antropólogo norte-americano Edward Sapir
desenvolveu um trabalho analítico das línguas indígenas da América do Norte.
Analisando as línguas tão diferentes das línguas europeias, ele chegou à
conclusões que revolucionaram os estudos antropológicos e línguisticos, dando
origem à aréa de etnolínguistica. Em 1929 ele escreveu: “seres humanos não
vivem sozinhos no mundo objetivo (…), eles estão à mercê da língua que se tem
tornado o principal meio de expressão da sociedade” (Sapir 1958: 69).
A teoria do Sapir, alegando que
as culturas estão completamente dependentes das línguas no modo de pensar e de interpretar
a realidade, foi desenvolvida pelo seu aluno, Benjamin Lee Whorf, que escreveu
nos anos 40:
“cortamos e organizamos a natureza em conceitos, atribuindo os
significados aos fenômenos, principalmente, porque fazemos parte do acordo
criado para organizar o mundo dessa maneira – acordo realizado dentro de uma
comunidade linguística e codificado pelos padrões da nossa língua” (Whorf
1956: 213).
Assim nasceu a primeira teoria
conhecida no mundo como Sapir&Whorf
Theory que defende a tese de que a língua condiciona o nosso modo de interpretar
a realidade. Atualmente, existem duas versões da teoria. A original, chamada
pelo línguistas the strong Sapir and
Whorf theory, que mantem que as categorias línguisticas determinam
inteiramente a mentalidade dos usúarios, e a teoria soft, que ressalta as interligações entre a língua e o modo de
pensar, mostrando como a língua com as palavras, expressões e construções
específicas dá as estruturas limitadas de interpretação da realidade. A teoria soft defende também a ideia de que
inicialmente, a influência da realidade e da cultura da comunidade esteja mais
forte do que o impacto da língua na mentalidade. Mas assim, criam-se as regras
línguisticas que representam a cultura e afetam o modo de interpretar a
realidade nas gerações seguintes.
O que vocês acham sobre as teorias do Humboldt, Sapir e
Whorf?
O que a versão brasileira do
português diz sobre a cultura brasileira, comparando com a versão europeia da
mesma língua? O que o fato de usarmos mais diminutivos e expressões indiretas
diz sobre nós como membros da cultura brasileira? Será que as palavras
influenciam o nosso modo de estar e pensar ou somos nós que, de maneira
subconsciente, estamos a cada dia
criando a nossa própria e única língua?
Compartilhe o seu entendimento! J
sobre autora:
JOANNA SKRZYPCZAK –
polonesa, reside no Brasil desde 2012,
línguista e interculturalista
de formação e de paixão –
viveu e
estudou
na Polônia, França,
Portugal e Brasil.
Referências:
SAPIR
Edward (1929), “The Status of Linguistics as a Science”. In E. Sapir (1958) Culture,
Language and Personality. Ed. D. G. Mandelbaum. Berkley, CA: University of California Press
WHORF
Benjamin Lee (1956): Language, Thought and Reality. Ed. J. B. Carroll.
Cambridge, MA: MIT Press
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