Thursday, January 16, 2014

A língua influencia o nosso modo de pensar?

Já pensou sobre a relação entre a língua e o modo de pensar dos seus usuários?

Porque em algumas línguas você pode exprimir uma ideia com 2 ou 3 palavras e em outras você precisa de falar durante 10 minutos chegando à mesma conclusão? O que o fato de um brasileiro falar “Talvez”, quando um alemão falaria “Não” diz sobre a cultura e o modo de pensar das pessoas que vivem nela? Já pensaram porque tem tantas palavras e expressões que não podem ser traduzidas para outras línguas? É a cultura que influencia como nós nos exprimimos ou será que a língua nos faz pensar de algum modo específico?

Os filósofos e sociolinguistas já têm feito estas perguntas várias vezes e continuam criando teorias sobre o assunto.
   
Um dos primeiros filósofos que abordou o tema no século XVIII foi o alemão Wilhelm von Humboldt. Ele apresentou a ideia de que a língua é um espírito da nação. Analisando as línguas europeias e as diferenças entre as mesmas, chegou à conclusão que os povos estão usando as línguas diferentes por causa de modos diferentes de interpretar os mesmos fenômenos. Ele argumentou que pensar nunca está desligado da língua do pensador e que a língua condiciona a forma de abordar e interpretar os acontecimentos. É importante mencionar que a teoria de Humboldt contribuiu à onda de padronização das línguas oficias nos países europeus.

Já no século XX., baseado na ideia apresentada por Humboldt, o antropólogo norte-americano Edward Sapir desenvolveu um trabalho analítico das línguas indígenas da América do Norte. Analisando as línguas tão diferentes das línguas europeias, ele chegou à conclusões que revolucionaram os estudos antropológicos e línguisticos, dando origem à aréa de etnolínguistica. Em 1929 ele escreveu: “seres humanos não vivem sozinhos no mundo objetivo (…), eles estão à mercê da língua que se tem tornado o principal meio de expressão da sociedade” (Sapir 1958: 69).

A teoria do Sapir, alegando que as culturas estão completamente dependentes das línguas no modo de pensar e de interpretar a realidade, foi desenvolvida pelo seu aluno, Benjamin Lee Whorf, que escreveu nos anos 40:
“cortamos e organizamos a natureza em conceitos, atribuindo os significados aos fenômenos, principalmente, porque fazemos parte do acordo criado para organizar o mundo dessa maneira – acordo realizado dentro de uma comunidade linguística e codificado pelos padrões da nossa língua” (Whorf 1956: 213).       

Assim nasceu a primeira teoria conhecida no mundo como Sapir&Whorf Theory que defende a tese de que a língua condiciona o nosso modo de interpretar a realidade. Atualmente, existem duas versões da teoria. A original, chamada pelo línguistas the strong Sapir and Whorf theory, que mantem que as categorias línguisticas determinam inteiramente a mentalidade dos usúarios, e a teoria soft, que ressalta as interligações entre a língua e o modo de pensar, mostrando como a língua com as palavras, expressões e construções específicas dá as estruturas limitadas de interpretação da realidade. A teoria soft defende também a ideia de que inicialmente, a influência da realidade e da cultura da comunidade esteja mais forte do que o impacto da língua na mentalidade. Mas assim, criam-se as regras línguisticas que representam a cultura e afetam o modo de interpretar a realidade nas gerações seguintes. 

O que vocês acham sobre as teorias do Humboldt, Sapir e Whorf?

O que a versão brasileira do português diz sobre a cultura brasileira, comparando com a versão europeia da mesma língua? O que o fato de usarmos mais diminutivos e expressões indiretas diz sobre nós como membros da cultura brasileira? Será que as palavras influenciam o nosso modo de estar e pensar ou somos nós que, de maneira subconsciente, estamos a  cada dia criando a nossa própria e única língua?

Compartilhe o seu entendimento! J


sobre autora:

JOANNA SKRZYPCZAK
polonesa, reside no Brasil desde 2012,
línguista e interculturalista de formação e de paixão –
viveu e estudou
na Polônia, França, Portugal e Brasil. 





Referências:
SAPIR Edward (1929), “The Status of Linguistics as a Science”. In E. Sapir (1958) Culture, Language and Personality. Ed. D. G. Mandelbaum. Berkley, CA: University of California Press

WHORF Benjamin Lee (1956): Language, Thought and Reality. Ed. J. B. Carroll. Cambridge, MA: MIT Press




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