Monday, June 14, 2010

Cresce importância de lições interculturais

São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010

Folha de São Paulo - The New York times

VIAGENS & NEGÓCIOS

Cresce importância de lições interculturais

Por TANYA MOHN
Treinar a comunicação com outras culturas há muito tempo é parte da preparação de executivos que se mudam para o exterior. Mas agora isso vale cada vez mais também para empregados que talvez jamais saiam do país, mas que vão trabalhar com empresas e pessoas do mundo inteiro.
"Seja uma multinacional ou uma 'start-up' saída de uma garagem, todo mundo é global hoje em dia", afirmou Dean Foster, presidente de uma consultoria intercultural de Nova York. "Na economia de hoje, não há margem para a falha. As empresas têm de entender a cultura na qual estão trabalhando desde o primeiro dia."
Foster contou que recentemente um empresário americano deu quatro relógios antigos, num embrulho branco, a um potencial cliente da China. O homem não sabia que, em mandarim, as palavras para "quatro", "relógio" e "morte" são parecidas, e que em muitos países da Ásia o branco é a cor do luto. O simbolismo foi tão poderoso que o empresário perdeu o negócio.
Esse treinamento é habitual para militares, diplomatas e suas famílias, mas as empresas "são realmente recém-chegadas", disse Anne Copeland, diretora-executiva do Interchange Institute, organização de pesquisa e consultoria com sede em Massachusetts.
A psicóloga Jill Kristal, de Larchmont, Nova York, começou a incorporar o treinamento intercultural à sua prática na década de 1990, quando vivia em Londres. Ela também montou uma empresa, a Transitional Learning Curves, que cria produtos -livros interativos, calendários e jogos- para ajudar na comunicação das famílias no exterior. "Com muita frequência as coisas ficam sem ser ditas. Aí que os problemas começam."
Numa tarde recente, empregados americanos da fábrica de equipamentos médicos Hollister se preparavam para uma viagem ao Japão. Ao longo de cinco horas, um instrutor da consultoria de Foster falou de etiqueta à mesa, dos hábitos na hora de negociar e socializar, e da importância de desenvolver uma "mentalidade global" na hora de trabalhar com colegas no exterior e depois de voltar para casa.
Mary Lucas, supervisora de recursos humanos globais da empresa de planos de saúde Aetna, disse que suas equipes nas centrais da Irlanda e de Dubai tiveram um treinamento semelhante, que ajudou a identificar diferenças importantes, como o senso de urgência, que estavam impedindo a cooperação. Os supervisores na Irlanda pediam aos subordinados em Dubai que pagassem reembolsos, mas, se não houvesse um pedido explícito de prioridade, os reembolso não eram pagos necessariamente na hora, disse Lucas. O treinamento, segundo ela, "imediatamente criou uma conscientização que ajudou as equipes a serem muito mais bem sucedidas".
Foster recentemente adotou uma série de ferramentas online para empregados que não tenham tempo para um treinamento intercultural formal.
Andrew Walker, vice-presidente de mobilidade global da Thomson Reuters, disse que o treinamento online é mais fácil, rápido e barato do que o treinamento presencial. Por "uma fração do custo" do treinamento formal, disse ele, a Thomson Reuters oferece aos seus empregados em 93 países o CultureWizard, ferramenta da Web criada pela empresa RW3.
Michael Schell, executivo-chefe da RW3, contou que uma mineradora britânica havia contratado sua firma porque não conseguia fechar negócios com uma empresa dos EUA. Ele disse que, durante o treinamento, notou que a proposta desestimulava os americanos porque começava com dez páginas detalhando os riscos da empreitada e quanto custaria o eventual fracasso.
Os americanos tendem a ver o fracasso como um aprendizado que inspira a criatividade, disse Schell, então a empresa americana considerava a proposta negativa e sem entusiasmo. Os britânicos tendem a ser culturalmente avessos aos riscos e achavam que os americanos não eram realistas. Quando a mineradora refez a proposta com uma abordagem positiva, fechou o negócio no dia seguinte, contou ele.
"As diferenças foram ignoradas porque falamos inglês", afirmou Schell. "Eles se parecem conosco, vestem os mesmos jeans e usam os mesmos celulares. A suposição é que somos todos iguais, mas não somos todos iguais."

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